Não é o fim que assusta. Assusta é a frieza do olhar e a aspereza das suas palavras. Assusta é o peito fechado, os sonhos cerrados. A sua amnésia diante dos nossos melhores momentos, de todos aqueles pequenos e bons momentos que fizeram toda a nossa existência valer a pena. Assusta te saber tão pouco, te ter tão próximo e, ainda assim, tão distante.

Não é o fim que assusta. Assusta é não me ver na sua retina, não te reconhecer gigante e não ser sua pequena. Assustam suas verdades impostas, seus desvios de rota e seus silêncios. Seus passos certos e, pra mim, tão trôpegos. Assusta seu sarcasmo, suas novas roupas e sua nova pele, te saber despido de nós.

Não me assusta o fim. Assusta não reconhecer sua voz, não entender sua língua, não caber no seu abraço, não calçar seus sapatos. Não dividir minha vida com você. Assusta sua impaciência, sua prepotência, sua nova moral, a verdade que você quis esconder.

Não é o fim que assusta. Assusta a leviandade com que me amou, a facilidade com que me deixou, a firmeza com que me nega um lugar na sua memória. Assusta o seu egoísmo, o seu pouco caso, a sua impermeabilidade. Assusta ser uma estranha, não saber como agir, do que te chamar, não ter pra onde ir, ter de recomeçar.

Não é o fim que assusta. Assusta é este seu novo eu, tão vazio de mim, tão cheio de você.