Existem coisas que você nunca vai saber. Feitas por você, pra você, mas refletidas em mim; no seu vazio. Você nunca vai saber o quanto me tornei mais fria, mesmo em dias quentes. Você não vai saber o quanto aquele horizonte me sufocou. Ou o quanto esperei que você voltasse. Nunca vai supor quantas vezes cortei meus pulsos tentando morrer para matar (te). Existe um mundo de coisas que você nunca vai saber.

Não vai saber das lágrimas rolando mudas no seu silêncio e o quão próxima estive tantas vezes sem poder me aproximar. Não vai saber o quanto seu equilíbrio me custou. O quão cara a sua felicidade me saiu. Não vai saber dos lírios mortos no jardim e do descuido, escudo.

Não vai saber dos outros corpos sem alma aos quais me lancei reafirmando nossa ausência. Não vai saber da inocência perdida, do cadeado, da firmeza do caminhar solitário que impus às minhas pernas por tristeza do coração. Nunca vai saber das músicas, dos versos, dos rasgos, dos retalhos, das reticências logo após o ponto final.

Existem coisas que você nunca vai saber. Coisas que nunca vou me permitir dizer. Você não vai saber que me apressei em fazer as malas, porque precisava deixá-lo. Nunca vai saber que desejei que você interviesse e mudasse tudo, inclusive a mim. Não vai saber que mudei a minha vida para escapar da sua lembrança.

Não vai saber onde moro. Não vai saber do frio que faz. Dos passos que der. Não vai saber que rasguei seu endereço. Não vai saber que interditei a estrada. Não vai saber que mudei a direção do vento. Não vai saber… Não vai saber dessa de mim que ainda é sua… Ainda… Sua… E eu também não vou saber.

 

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