Jogado no sofá, copo de uísque na mão. A sua volta o caos: livros revirados, folhas soltas, cds pelo chão. As roupas da semana se acumulavam no canto da sala. No rádio, um cantor fanhoso falava qualquer coisa sobre mosaicos abstratos, sonhos em estilhaços erro e dor. Desligou o som, sacudiu a cabeça e suspirou fundo. Um gole. Mais uma dose.
No minuto seguinte lá estava ela, no ar, que se preencheu do perfume dela. Tentou prender a respiração. Ela o fazia sufocar. Inconsequente mimada, fazia tanto barulho e mudou tudo de lugar. Tinha aqueles cabelos selvagens, sorriso de menina e corpo de mulher.
Decote de seios fartos que quase não cabiam nas mãos. Um jeito de falar com aquele otimismo irritante, sempre tão cheia de razão. Enumerava filósofos, mas toda sua teoria revelava falta de prática. Menina fantasiada de mulher. Outra dose.
Como uma mariposa, foi atraído pela sua chama. O dano era evidente, mas ele tinha certeza que poderia controla-lo. Era a prova de fogo. Corpo e coração fechados. Conhecia desvios de rota e ela era só uma menina. – Que mal poderia lhe fazer?
E agora estava ali, reduzido à sombra da ausência daquela menina e toda a sua juventude. Não conseguia entender onde e como havia perdido o controle.
Apertou os olhos um pouco mais na tentativa de afastar o pensamento. Tomou mais uma dose. Desceu queimando por dentro. Forte e quente. Como era ela, de novo em seus pensamentos. Oferecia-lhe seu corpo e lhe devorava com prazer. Tinha olhos de pecado, gosto de inocência e um jeito suicida que ele não podia conter…
Ela queria demais, se deu demais. Queria que ele se entregasse, queria que ele se expusesse, que ele arriscasse. Logo ele que sempre conduziu sua vida à luz da lógica. Como ela ousou desequilibrar a equação?
Levantou-se e seus olhos procuraram a garrafa. O uísque havia acabado e ele precisava de uma dose de qualquer coisa pra expulsá-la de sua lembrança.
Mas aquela menina, seu sorriso, sua boca, suas palavras otimistas e seu decote pareciam estar impregnados em sua alma. Precisava só de mais uma dose para esquecer.
Achou a garrafa. Olhou para o copo meio vazio, a garrafa meio cheia e bebeu direto no gargalo. Quente e forte, como ela.
Ele queria mais, mas suas regras e seus limites não surtiam efeito naquela menina, que queria amá-lo a todo tempo, e isso ele não poderia permitir. Perder o controle não era uma opção e por isso a havia mandado embora.
Porque ele não podia contê-la. Porque ele não podia dar tudo e ela tinha muito a lhe oferecer. Ele não podia contê-la.
Mandou que partisse e levasse tudo com ela, mas ficaram as lembranças. Tudo ali lembrava ela. E mesmo que tivesse feito de tudo para contê-la, ali estava ela, invadindo seus pensamentos, transbordando em seus olhos, queimando lhe por dentro.
Nuh! Fico tentando descobrir o contexto por trás de cada texto…heheheh
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Nem te conto, amiga… nem te conto! Rs
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