Tenho amor. Aos montes. Saindo pelos poros, transpirando meu ser, ancorado em mim. Tenho amor nas cicatrizes e na profundeza dos olhos. Tenho amor nos cachos e caracóis, nos nós, no emaranhado de mim. Nas pernas desengonçadas, no umbigo gordo, no corpo todo. Tenho amor nos pés doídos, nas lágrimas derramadas e diante da sua porta fechada.
Tenho amor para brigar, xingar, maldizer, matar, morrer. Renascer. Amor de casa, mesa, banho, de vadiagem. Tenho amor pra uma vida ou pra viagem, pra seguir por rotas clandestinas ou pelas avenidas principais. Tenho amor em todas as vias, colidindo na contramão das desilusões. Tenho amor em rosa e em botão.
Tenho amor por entre os dedos e guardado no bolso. Tenho amor na carne. Na alma. No sexo. Nos sonhos, nos restos, nos pontos, nas reticências. Tenho amor no começo e, mais ainda, no final. Amor no sorriso, na fome, na sede, na rede, no chão. No ar. Na pedra e na flor.
Tenho amor semente, criando raiz. Tenho amor no ninho, quase passarinho. Tenho amor nas palavras, nas mentiras sinceras, nas portas, janelas e fechaduras. Nas frestas. Tenho amor pra refletir e absorver. Tenho amor na garganta, no nó, no laço, no cadarço, na solidão.
Tenho amor pra dar de presente, só um mimo. Tenho amor devolvido, extraviado, contrabandeado, intacto, usado, reaproveitado. Nunca desperdiçado.
Tenho amor cheirando a novo, amor cheirando a mofo, a mato. Tenho amor pra afagar, aconchegar. Amor pra morder, lamber, amassar, cheirar, pegar, largar. Deixar livre. Tenho amor para chegar, partir e não me acomodar. Pra esperar. Acreditar. E isso é tudo, eu tenho a sorte de amar…