O que fica

260618-O que fica

O que machuca é o que fica. É todo o amor que reside em mim. As lembranças dos dias felizes e os restos do que você não quis espalhados pela casa vazia e fria, pequena e ainda assim, grande demais pra mim e pra tudo o que você deixou.

Fica tentativa de esquecer não apenas o que foi, mas o que poderia ser, até onde poderíamos ter ido. Ficam os sonhos que não realizamos, os lugares que não visitamos, a história que não vivemos, a cumplicidade que perdemos. Ficam as negativas, rasas de mais pra mim.

Ficam a culpa e o descaso, as verdades não ditas, o silêncio ensurdecedor. A falta, a urgência dos dias, a parede desbotada e as ervas daninhas no jardim. Fica o descaso de nós, um coração partido, a metade vazia, o frio d’alma e o perdão que não pode ser dado.

Machucam as impossibilidades, as omissões, as fugas, as palavras, os segredos, as portas fechadas, a covardia do abandono e a poeira do tempo que não volta. Fica a vontade, a saudade, as taças vazias, o medo e a covardia do abandono.

Fica a sua ausência, tão presente em todos os cantos, ocupando todos os espaços. O seu cheiro nos lençóis, seu sorriso na memória, suas mãos em meu corpo, suas palavras imprecisas ecoando nos ocos de mim.

Machuca o início de nós dois chegando até o fim. Fica a esperança suicida de um recomeço onde possamos ser, enfim, felizes para sempre. E isso machuca, o que fica. É todo o amor que resiste em mim.

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