Vamos passear de mãos dadas, sentar em banco sujo, caminhar no parque, dividir fone de ouvido, andar num só ritmo. Vamos rabiscar livros, virar páginas e rir do antes, adormecer no sofá, rir de engasgar, compor nossa música, inventar nossa língua.
Vamos brincar de infinito, nos vestir dos nossos corpos, planejar viagem em mapa, dividir escova de dente, tomar banho de cachoeira ou de mar, lavar a alma e secar no sol.
Vamos fingir que dormimos para ver a cara do sonho da gente, andar descalço, esquecer as pedras dos sapatos, sumir com o jornal, abstrair o mundo lá fora, mudar o curso do vento, reinventar o tempo e nos perder nas horas.
Vamos tomar garrafas de vinho, beber e passar mal, abrir a janela pra lua, fazer cosquinha na barriga, amarrotar o lençol. Vamos fazer nascer o dia. Vamos resgatar mensagens em garrafas, percorrer o destino, decifrar sinais, contar menos um dia longe e depois mais um dia perto.
Vamos sumir num abraço, falar a mesma coisa ao mesmo tempo, brigar por besteira, dormir de conchinha e reclamar do despertador. Vamos dançar na chuva, atravessar desertos, nos amar em qualquer tempo, de qualquer jeito.
Vamos jantar à luz de velas, comer pizza requentada no café. Vamos sentir o cheiro, provar o gosto, não vamos morrer de desgosto. Vamos inventar nome de flor, contar estrelas, decifrar silêncios. Vamos falar verdades, despir nossos medos e mergulhar fundo. Vamos até a última gota.
Vamos viver os planos, os arcanos, as outras vidas, os enganos, os anos todos que nos restam, vamos? Vamos sem pensar, vamos nos entregar, vamos de mãos dadas, vamos na contramão… Vamos! Mas vamos logo! Porque tem uma vida aqui que precisa de ti…