Tem dias que a gente se encolhe, se retrai, se contrai e se apequena para caber na saudade de um tempo que não passou e já ficou pra trás. A gente se desprende do chão e navega sorrateiro no cair da noite, por entre alegrias grandes e felicidades instantâneas, prazeres imensos e pequenas delicadezas e se perde nas memórias de uma vida que não vive mais.
A gente vasculha pelos cantos escuros em busca de relíquias e qualquer vestígio, se perde entre papéis, nos detalhes, nas nuances, nas ordinariedades, nas fotos e pedaços desfeitos de nós dois. Sente saudades dos sorrisos, das futilidades e das conversas mais banais. Passeia pelas lembranças, lembra o peito que foi abrigo, da felicidade sem mentiras, dos corpos emaranhados, dos sonhos trocados e de tudo que ficou pra trás.
Tem dias que a gente se rende, amolece, fraqueja e deixa a emoção tomar conta dos cantos vazios. Percorre todo o caminho em cada passo, deixa as lágrimas todas pelos melhores e piores motivos, as comemorações, tudo o que não vai mais voltar. E lembra de novo e mais uma vez como se há muito tivesse esquecido o que vive e arde.
Num descuido as lembranças tomam conta de tudo, amargas de tão doces. Nesse dia, outro tempo, sua felicidade era parte da minha e eu desejava te dar o mundo. A gente se arrepende do antes que ficou sem depois e de tudo que ficou tão vazio de nós. A vida para num soluço e a gente lamenta tudo o que não é mais.
Tem dias que trazem o peso de uma década e embargam a voz. E tem dias que a luz se apaga, perdemos os planos, o rumo, os anos, a festa, nada mais está no mapa, o tempo quebra. A saudade emudece a gente, nesses dias que são longos demais.