Nada é tão óbvio ou inevitável, muito menos imutável. Os dados estão rolando e a sorte está lançada no espiral do tempo. Nada está decidido ou certo. Neste contexto, as coisas que fazem falta ocupam espaço em nós. Por isso, meu bem, você está aqui comigo. Sua ausência, sempre tão presente, é a música que coreografa minha vida.
Logo pela manhã, mesmo antes de abrir os olhos, eu te sinto, ali. No oco que me preenche. O teu vazio reverbera pela casa, fria e pálida sem você. Me agasalho na sua lembrança, estendo o lençol, do jeitinho que você gosta, caso você me surpreenda com a beleza da sua presença. Sua ausência é a expectativa da chegada. Rio com a possibilidade e, então você é o responsável por deixar meu dia um tico mais colorido.
Quando saio, meus passos são acompanhados pelos seus, embaraçam as minhas pernas e me fazem querer mudar de direção para que nossos caminhos se façam os mesmos. Se me distraio, sua ausência quase me escapa. Mas, quando volto para mim, é ela quem me faz companhia e me faz acreditar que nunca mais estarei sozinha.
Sua ausência me faz perceber que você está em todos os meus detalhes, oculto nos meus gestos e por trás das minhas escolhas. Você está nas linhas que escrevo e nos filmes que eu vejo. Todos os poemas do mundo parecem falar de você, da sua ausência. Você está nas entrelinhas da minha vida. Suas digitais estão por todo o meu corpo, seu cheiro está no meu pulmão e, mesmo que estejamos em terras distantes, eu sinto nossas mãos dadas, entrelaçadas. Eu sinto seus olhos em mim, meu amor em você.
Redesenho e recrio meus dias ao redor disto, da sua ausência. Assim, de um jeito torto, eu sei que nunca mais estarei sozinha. Você está aqui, bem perto, no vazio de mim.
A Moça da Janela 