Nesses dias em que as noites são longas demais, eu me retraio e me encolho. Reduzo-me ao mínimo essencial. Fecho as janelas, cerro as palavras e olho pra dentro de mim. Mergulho na minha escuridão, nas minhas incertezas. É preciso tempo para acertar as contas com as frases não ditas, com as verdades escondidas e com as portas que não tive coragem de fechar.

Olhos vermelhos, noites insones, unhas roídas. Um texto sem final, aquele adeus que nunca acontece ou a mensagem que nunca chega. Abstraio o mundo ao meu redor e desapareço nos dias frios da cidade cinza. O não dizer é também uma forma de dizer e, acredite: às vezes é a decisão mais acertada.

Porque, às vezes, quanto mais se fala, mais distâncias se criam e é preciso ouvir o silêncio. Que, como vento, sopra em minha orelha uma frase que eu já tinha esquecido, um motivo que eu já nem lembrava mais. Algo se restaura em mim e, contra todas as probabilidades, eu encontro razões para acreditar. Procuro seus sinais, em qualquer parte secreta de mim. Encontro um último sorriso perdido, o suficiente para me esquentar, para querer lhe falar.

 

 

2 comentários sobre “Inverno

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