Às vezes eu ainda penso em você. Penso na vida que não vivemos e em tudo o que não nos permitimos. Penso que eu quero mesmo que você seja feliz e nunca deixe de pensar em mim. Você, meu amor não realizado, um sonho tão projetado, uma morte tão prematura. O não vivido e tão marcado. Nossos corpos urgentes, seus olhos penetrando meus sentidos, nosso voo, seu desvio e a minha queda. Brota uma saudade feita do impossível. Nossa história imaginada, perdida em um canto qualquer, deixada de lado.
Tento tantas e tantas vezes te deixar, mas você sempre volta. Em uma música, em uma memória, num cheiro ou num descuido. Você tão meu e tão do mundo. O tempo tecido em uma espera sem esperança, em um encontro nunca marcado, exposto na velhice do rosto. Ainda te trago comigo, entre os entulhos e os cacos, nesta de mim que sobrou depois de você. Te lembro, mesmo quando te esqueço. Te guardo, mesmo quando te abandono. Sobrevivo, mesmo quando vivo.
Me recuso, ainda e sempre, mesmo que nunca, a te deixar passar… partir. Te mantenho preso, refém do meu passado, tão presente numa parte sempre oculta de mim. Você, meu maior encontro, o grande desencontro, a covardia e o desamor… Sua vida meio vazia, a minha meio cheia, nossos paradoxos, você tão ortodoxo, eu tão prematura. Nossa existência paralela, sua vida em suspenso, você tão cheio de culpa e eu o seu maior peso. Você, meu desacerto. Eu, o seu pecado. Nós, o futuro do pretérito.
Sigo daí e você vai daí. Completos pelas metades, trôpegos e cambaleantes em nossos passos firmes, em nossa certeza aparente, em nossas vidas perfeitamente sob controle. Verdadeiros e intensos, em tudo, mesmo nas nossas metades. Eu prefiro acreditar que sim, e te guardar, esquecido, em alguma parte perdida de mim. Num infinito muito particular, sigo com seu cheiro guardado em meus pulmões…
Muito bom, triste mas muito bom. Parabéns, continue assim… Sempre!
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