Então vem o silêncio. Abrupto e certeiro. Uma espécie de convivência intuitiva, em uma vida que se vive pra dentro. É um silêncio feroz, mas finalmente adulto. A constatação que somos duas fés rezando e eu não devo interromper seu deus. Você não entende a minha fé.
Avassalador, o silêncio leva com ele todas as respostas, deixando muitas perguntas, saudades e reticências. Suicida, o silêncio aponta palavras para o peito, mas tira o dedo do gatilho, com medo de errar. Apaziguador, o silêncio é o adeus não dito, a vontade de voltar. É o não saber dizer, a tentativa de suspender o tempo e inventar uma nova língua na qual seja possível conjugar o verbo amar.
Seu silêncio é saudação invisível a todos os demais. É o vento que esvoaça as cortinas, a esperança que me acena, mas não me convida para ficar. Meu silêncio é a sua espera, um desejo insuspeito, a vontade de amar. Como se desvendar seus segredos fosse apenas uma questão de ventos e eu fosse capaz de controlar as fases da lua.
Meu silêncio são palavras ao vento, num barco sem vela, sem rumo ou sem prumo, indo pra longe do cais. Seu silêncio é a coragem encalhando na praia da covardia e da indiferença. Nosso silêncio são as paralelas que seguem se afastando do infinito. O amor indizível, que rebenta dentro do meu peito e faz ressaca nos meus olhos.