Nosso amor morreu antes de existir, sendo, ainda assim, maior, bem maior que o fim. O que sobrou, ficou aqui, ancorado no segredo do meu ser, por trás de todas as camadas. Ali, onde ninguém vê. Bem aqui, onde arde e urge em mim.
Nem sei como segui. Às vezes à deriva, em direções opostas, meio sem rumo e sem destino, esperando um desvio, um descuido, uma fresta ou você dizer qualquer coisa que pudesse reverter o irreversível. Aprendi a ser metade meio cheia, ainda que meio vazia de ti.
Sobrevivi assim, com ranhuras escondidas em sorrisos, palavras guardadas em um olhar e essa esperança insistente de, um dia, quem sabe, poder te resgatar. Ser, de novo, inteira e plena, como quando com você. Como quando havia uma vida pra sonhar.
Ao seu lado fui irresponsável, irremediável, intensa. Universo e gota d’água. Fui a pessoa certa, a hora exata e a eternidade em um momento. Tudo fora do tempo, a contragosto do possível. Fomos o impossível, o improvável, o intangível. Fomos fim de tarde no arpoador, tempestade em alto mar. Crianças bêbadas, fizemos nosso carnaval.
Fui como nunca mais serei. De verdade, alma e carne. Chuva e sol. E a grande verdade é que seria capaz de perdoar seus maiores defeitos e superar todas as suas ausências. Me entregaria a você com uma perigosa facilidade e me mostraria com todos os meus excessos e vícios, todos e cada um deles.
Mudaria meu endereço e voltaria e morar na sua vida, se você me deixasse entrar. Chegaria sorrateira e velozmente, com a boca salivando pra beijar e um corpo pronto para te amar. Viveria esse conto de fadas como uma menina inocente que acredita em finais felizes, mesmo sabendo que é tudo faz de conta.
Contaria com a sorte e deixaria tudo fugir do controle. Se fosse possível reverteria o curso do rio e te amaria na exata medida do desmedido. Eu nem me importaria com as rachaduras na parede e com os cabelos brancos. Dane-se tudo, se você pudesse, mesmo que, por um único segundo, ser o meu mundo.